Mother! — Review
- Anna
- 2 de out. de 2017
- 5 min de leitura
Mother! (2017) — é um filme que está causando polêmica por estar dividindo opiniões entre os críticos e deixando seus telespectadores sem entender o que acabaram de assistir ao sair do cinema. Por isso, vou explicar as interpretações sobre o que o diretor Darren Aronofsky tentou passar com o seu longa. O filme faz uma menção à figuras bíblicas, não da forma como conhecemos, mas sim de um ponto de vista mais primitivo da própria origem de tudo. Também se refere à natureza e critica a forma como nós seres humanos a tratamos — porém, para falar sobre essa história, precisamos dividi-la em partes. Primeiramente, vamos entender os aspectos bíblicos que o diretor tenta passar ao público.

Nenhum dos personagens possuem nome. As “dicas” do diretor sobre quem são os personagens estão nos créditos, onde Javier Bardem é creditado como Ele — o relativo a Deus —, Jennifer Lawrence é A Mãe (Natureza) , a criatura que protege a casa, que dá valor pra tudo que tem ali, e se preocupa com todas as possíveis imperfeições. A casa é a Terra, Lawrence é a Natureza, e o Bardem é Deus. Ed Harris é Homem (Adão), Michele Pfeiffer é a Mulher (Eva), Domhnall Gleeson é O filho mais velho (Caim) e Brian Glesson é O irmão mais novo (Abel). A história, então, começa com Deus e a Mãe Natureza vivendo em harmonia na Terra, um local que ela o ajudou a construir, preparando tudo da maneira que ele mais gosta. Tudo ia bem até a chegada de Adão, que começa a mexer com o equilíbrio do local. Apesar dos protestos quase silenciosos de sua companheira, Deus convida o homem para ficar, uma vez que o visitante é fã de seu trabalho. Com isso, ele mostra toda a sua casa e, inclusive, revela para Adão seu “sagrado” escritório — exibindo para o novo "amigo" uma joia que seria o relativo ao fruto proibido. Adão, porém, é um homem doente e em uma das cenas aparece vomitando com um corte exposto em sua costela — na Bíblia, Adão dá uma de suas costelas para ganhar uma companheira.
Pouco depois, Eva, sua esposa, bate na porta e invade a casa, mexendo em tudo e provocando a Mãe. A Mãe e a Mulher tem uma conversa em que certo momento Lawrence chama a casa de ‘Paraíso’ — talvez uma referência ao Éden. Não demora muito para a Mulher destruir, sem querer, o “fruto proibido”, gerando a ira de Deus que os bane de seu escritório para sempre. Na continuação da história bíblica, Adão e Eva tem dois filhos: Caim e Abel. No longa, os dois filhos invadem a casa e começam a brigar — sendo que o mais velho acaba matando o mais novo para desespero de Adão. Logo o irmão mais velho culpa o personagem de Bardem pelo ato que praticou. Assim como Caim culpava Deus por ele ter matado Abel, como se Deus o tivesse levado a praticar tal ato, sendo que o ele mesmo estava perdido nos próprios pensamentos confusos e egoístas. O sangue do irmão mais novo escorre pela casa até chegar no andar inferior. O sangue que escorre pelas paredes do andar inferior marca uma porta, que poderia ser referência aos portões do inferno sendo abertos pelo pecado. Deus oferece sua casa para o funeral e ela é imediatamente invadida por pessoas desconhecidas que começam a mexer no “mundo”. Então, a Mãe Natureza pede para que eles sejam expulsos — o que seria o primeiro “fim do mundo” com a inundação da Arca de Noé. Sozinho com a Mãe, ele a engravida. Deus sente-se inspirado com a chegada de seu primeiro filho e escreve um novo poema que, assim que lançado, é aclamado pelo povo — que mais uma vez invade sua casa para o desespero da mãe natureza. No meio do caos, ela dá a luz a criança (Jesus), que após um momento de descuido da mãe, é levada por Deus para o povo. Seu único filho é morto pela humanidade — eles acabam bebendo seu sangue e comendo seu corpo — e, mesmo assim, Deus diz para A Mãe perdoá-los — mostrando a relação de Deus com o perdão daqueles que nos ferem — mas ela não o faz. Eventualmente, o caos é tão grande e o homem destrói tanto a casa (mundo) que só resta a mãe natureza a aniquilação de tudo — o apocalipse. Retaliação. A Natureza, farta de ver o lugar que ela protege, a Terra, ser consumida e destruída pelos seres humanos que Deus tanto gosta, se volta contra os mesmos. A Natureza mata o ser humano apenas porque ele ameaça a sua existência, mas ela sobrevive, muito machucada, porém viva. Deus, sem nenhuma queimadura, carrega a Mãe nos braços. Deus salva a Natureza. Ela pergunta o que ele é e ele responde ‘apenas sou o que sou’. Logo, o Ele a deita na cama e dela retira o coração, um símbolo para sua essência mais pura. O seu coração logo se torna um cristal igual ao que fora quebrado no início do filme. Ao colocá-lo na estante — repetindo a cena inicial do filme, a casa destruída se reconstrói, mais uma vez. Outra atriz acorda no lugar de Lawrence, cena similar a do início do filme quando Lawrence acorda, dando a entender que isso tudo já havia acontecido, como se o mundo tivesse sido recriado após o apocalipse.

Essa é a primeira camada do filme. Entendendo isso, abre-se espaço para ainda mais interpretações do trabalho de Aronofsky, que vão desde a relação da sociedade com a mulher até sua visão de Deus. Mother! também fala sobre como a mulher é oprimida. Jennifer Lawrence interpreta uma pessoa quieta, reprimida, que mal consegue se expressar e é totalmente dependente do marido.

A vida dela é como de muitas mulheres no passado: vive para servir o marido e para realizar todos os seus caprichos. Ela nunca deixa a casa, ela nunca consegue fazer nada para si e vive para servir. Quando Eva fala com ela, o único assunto que falam envolve o relacionamento com marido, sua vida sexual e a necessidade de ser mãe o mais rápido possível.

Deus, por sua vez, é misericordioso com a humanidade, mas não por amor a ela e, sim, por ser uma pessoa completamente egocêntrica. Em uma da cenas, Lawrence diz que ele não se importa com ela, que só se importa com seus seguidores, e diz que ele nunca a amou de verdade, ele amava o amor que ela tinha por ele. Ele precisa ser amado, precisa ser adorado e, por isso, perdoa a humanidade por destruir sua casa, por acabar com a mãe natureza e até de ter assassinado seu filho. Esse não é um Deus de piedade e, sim, um garoto mimado. Mother! é um filme sufocante que abre espaço para diversas interpretações. Essa é apenas uma das várias que ele abre e fica o convite ao leitor para também encontrar a sua. A única coisa que pode atrapalha-lo de ser um filme incrível é sua difícil interpretação para algumas pessoas, mas fora isso, é uma grande obra prima de Darren Aronofsky.
MOTHER!
Nota: B
Classificado como R pelo conteúdo sexual, imagens violentas e perturbadoras, nudez e linguagem impropria.
Tempo de duração: 115 minutos.
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