O Filme da Minha Vida — Review
- Anna
- 13 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Adaptações literárias sempre carregam questões complicadas, como mudanças da trama, inserção de novos elementos e essa tarefa fica ainda mais difícil quando se trata de um livro poético. Isso acontece com "O Filme da Minha Vida".

O Filme da Minha Vida (2017) — baseado no livro do chileno Antonio Skármeta, o filme estrelado (e dirigido) por Selton Mello e Johnny Massaro, não é um filme, é poesia. O elenco conta com Johnny Massaro, Selton Mello, Bruna Linzmeyer e o francês Vincent Cassel.
Situado na década de 60 na Serra Gaúcha, o filme acompanha o personagem de Massaro, Tony, filho de um pai francês e uma mãe brasileira, que vai estudar na capital e pensa ter uma vida perfeita. Mas isso muda quando ele volta para sua cidadezinha e vê seu pai ir embora para a França sem nenhuma explicação. E assim como no livro, grande parte do filme é dedicada à tristeza do jovem e de sua mãe. Embora seja um comportamento compreensível, o filme fica um pouco arrastado nessa parte, com cenas que parecem dar voltas sem chegar em lugar nenhum. O filme trata de muitas coisas ao mesmo tempo, mas acabou se perdendo em meio delas e deixando muito a desejar no final.
O grande problema de O Filme da Minha Vida é o seu final e a resolução do conflito com o pai. Enquanto a publicação deixa o desfecho da história em aberto, o filme faz tudo de forma bem explicada e coloca seus protagonistas em contradição com suas próprias crenças. Sim, é um filme de época, e a questão colocada no final é muito mais aceitável na década de 60 do que hoje em dia. Mas Tony e sua mãe sofreram tanto, e o filme se preocupou em mostrar isso de forma tão profunda, que a aceitação cega da situação simplesmente não se explica. Com isso, o arco de amadurecimento dos personagens é prejudicado, dando a sensação de que eles pouco mudaram desde o começo da trama.

"Eu só via o fim e o inicio dos fillmes. O inicio para conhecer a história e o fim que é sempre bonito, né"
Vale ressaltar o belíssimo visual, que dá orgulho da fotografia do cinema brasileiro, e a trilha sonora, que some em momentos mais tristes, mas aparece de forma marcante quando necessário. A seleção de canções para o filme é sensacional, pois se adapta ao filme. E isso é o mais importante, já que não basta colocar músicas legais para o filme ser bom e ter uma trilha sonora boa, as músicas precisam se conectar com as cenas antes. Entre as músicas, temos "Coração de Papel", de Sérgio Reis, "Voilà", de Françoise Hardy, "Comme d'habitude", de Claude François e "The House Of the Rising Sun", do The Animals.

A direção de arte ficou por conta de Claudio Amaral Peixoto; Figurino por Kika Lopes e a cinematografia incrível por conta de Walter Carvalho.
A fotografia de Walter Carvalho optou em utilizar o primeiro plano, estilo que conversa diretamente com as escolhas do roteiro de entregar seus detalhes com muita paciência. Esse plano, junto com o plano detalhe, também muito observado aqui, causa sentimento de ausência a partir do enfoque.
Ainda na cinematografia, a fim de nos entregar a sensação de filme antigo, de película e de projeção em rolo, a paleta de cores é quase toda em tons pasteis, nada cítrico, o filtro vintage (sépia) e o chuvisco sutil e proposital somam-se pra apresentar a estética de época, além de corroborar com o assunto de tempo passado e tempo passando que a trama levanta. O filme parece ser banhado a ouro, sem exagero.
Com relação à direção, Selton opta por se utilizar, em boa parte do filme, de planos próximos dos personagens, mostrando a importância de suas expressões e sentimentos.
O filme seria impecável se não fosse pelo incomodo atraso na apresentação do conflito principal e por algumas (poucas) transições abruptas na montagem, sendo que a história pede calma e leveza em vez da rigidez que o corte seco transparece. Faltou ao filme perder o medo de não ter um final feliz e ser mais coerente com sua própria história, mas mesmo assim, é um filme imperdível e que merece enorme atenção.

O FILME DA MINHA VIDA (2017)
Nota: B+
Classificado como PG-14
Tempo de duração: 113 minutos
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